Posted by Mi, de Camila
Posted on
-
E aí hoje foi um dia em que foram ditas várias coisas que não precisavam ser ditas, nem deveriam ser ditas. Várias delas.
Da minha boca um monte de coisa presa na garganta saiu como em um susto, eu nem vi isso aparecendo, e fui ali e falei e falei e falei. E depois pedi desculpas por ter falado palavrão, como se o que fosse mais chocante na minha fala fosse a linguagem que eu usei e não o assunto tratado ou como eu entrei no consultório do Dr. Caramujo e nem vi que tinha outro paciente ali dentro. Mas fui lá, falei, arranquei da garganta e bom, de boa, fortes emoções, discussão acirrada, assunto morto e enterrado.
Mais tarde, na tela do computador mil coisas acontecendo e o trabalho ficando de lado. Mil coisas sendo ditas. Mil coisas que eu queria ouvir, mas não nessa situação. Porque, se eu digo que queria ter te conhecido antes é porque eu não gosto do jeito que a gente se conheceu e gosto menos ainda da sobrevida que essa história continua tendo.
E aí, eu bem pronta para ser engolida na sua trama, eu sendo engolida pela sua trama, eu falando tudo o que você quer ouvir, e o chefe pede que eu vá até a padaria comprar um pedaço de queijo prato. Aceito prontamente, eu sei que eu sozinha não consigo escapar disso. Fujo, saio andando pela rua engarrafada, um ventinho frio na cara, não tem queijo na padaria, volto metade do caminho. Pensando que preciso de mais tempo, mudo o rumo e vou ao supermercado, na esperança do meu medo sumir no meio daquelas prateleiras todas.
A cabeça rodando, confusa. Eu me expus, eu não poderia ter feito isso. O mundo gira à minha volta. A minha porta está fechada e você é o único que consegue entrar. Por que será isso? Eu deixei. Eu te convidei da primeira vez. E, como um vampiro, um convite bastou para que você me fizesse ficar com vontade de vomitar e chorar e gritar e socar alguma coisa.
Então lá estou eu no supermercado escolhendo o queijo e pensando em receitas de risotos, para ver se o turbilhão passa. E o moço que corta o queijo pergunta que tipo de olhar é o meu. Como assim que TIPO de olhar é o meu?, pergunto. Ele responde numa voz displiscente que parece que eu estou pronta para assassinar alguém. E eu despejo a raiva nele: torce para que não seja você.
Os corredores do supermercado cheios, carrinhos entupidos de cerveja, camisas verdes, camisas amarelas, e eu pensando como minha vida esteve ruim nas últimas semanas e que eu devia procurar alguém que me abençoe ou algo do gênero e passa pela minha cabeça que a única coisa que falta é a fila agarrar bem na minha vez. E, como Murphy nunca descansa, a fila agarra. Duas vezes.
Segurando todos os instintos de xingar não sei quem, saio do supermercado bufando e falando "pronto, agora só falta eu quebrar a perna ou cair uma privada na minha cabeça", no exato momento um gato preto que estava ali como que esperando que eu saísse, me encara, atravessa o meu caminho e pára do outro lado da calçada.
[...]
Continue